domingo, 31 de maio de 2009

O Criminoso e o Crime

No conceito que geralmente se faz do mal, sob seus vários aspectos, confunde-se o mal, propriamente dito, com aquele que o pratica. Dessa lamentável confusão advêm não pequenas erros de apreciação, quanto à maneira eficiente de combater-se o mal.

Para bem agirmos em prol do saneamento moral, precisamos partir deste princípio: o crime não é o criminoso, o vício não é o viciado, o pecado não é o pecador, do mesmo modo e pelo mesmo critério que o doente não é a doença. Assim como se combatem as enfermidades e não os enfermos, assim também se devem Combater o crime, o vicio e o pecado, e não o criminoso, o viciado e o pecador.

O mal não é intrínseco no indivíduo, não faz parte da natureza íntima do Espírito; é, antes, uma anomalia, como o são as enfermidades. O bem, tal como a saúde, é o estado natural, é a condição visceralmente inerente ao espírito.

Um corpo doente constitui um caso de desequilíbrio, precisamente como um espírito transviado, rebelde, viciado, ou criminoso.

Há tantas variedades de distúrbios psíquicos quantas de distúrbios físicos, aos quais a medicina rubrica com variadíssimas denominações. A origem do mal, quer no corpo, quer no espírito, é a mesma: infração das leis de higiene.

O homem frauda essa lei por ignorância, por fraqueza e, finalmente, pelo impulso de certas paixões que o dominam. Não devemos vota-lo ao desprezo por isso, nem, muito menos, malsiná-lo como réprobo, pois, em tal caso, se justificaria tratar-se de igual modo os enfermos.

Aliás, em épocas felizmente remotas, se procedeu assim com relação aos enfermos de moléstias infecciosas. Esses infelizes eram tidos como vítimas da cólera divina e, por isso, perseguidos desapiedadamente pela sociedade.

A ignorância torna os homens capazes de todas as insânias. Pois é essa mesma ignorância, com referência aos transviados da senda nobre da vida, que gera a repulsa e mesmo o ódio contra os delinquentes. Os vemos códigos humanos, assim civis que religiosos, foram vazados nos moldes dessa confusão entre o ato delituoso e o seu agente.

Quando Jesus preconizou o - amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos fazem mal - não proclamou somente um preceito altamente humanitário, preferiu uma sentença profundamente pedagógica e sábia. A benevolência, contrastando com a agressão, é o único processo educativo capaz de corrigir e regenerar o pecador.

Cumpre notar, e o declaramos com toda a ênfase, que nada tem esta doutrina de comum com o sentimentalismo piegas, estéril, às vezes, prejudicial. Trata-se de repor as coisas nos seus lugares.

Para varrer-se o mal da face da Terra, é preciso que se apliquem métodos naturais, conducentes a esse objetivo. O método natural é a educação do espírito. Com o velho sistema de castigar, ou eliminar as vitimas do crime e do vicio, nada se logrará de positivo, conforme os fatos atestam eloquentemente.

A medicina jamais pensou na eliminação dos enfermos; toda a sua preocupação está em curar as doenças. Pois o processo deve ser o mesmo, em se tratando dos distúrbios que afetam o moral dos indivíduos.

Felizmente, os primeiros pródromos de uma reforma radical neste sentido já se observam nos meios mais avançados. O único castigo capaz de produzir efeito na regeneração dos culpados é o que se traduz pela natural consequência dolorosa do erro ou mal cometido, consequência que recai fatalmente sobre o culpado. É necessário fazer que o delinquente reconheça esse fato, e isto se consegue por meio da instrução moral.

Toda punição imposta de fora, como revide social, é contraproducente, conforme os fatos, em sua irretorquível expressão, têm comprovado mil vezes.

É muito fácil encarcerar ou eletrocutar um criminoso. Educá-lo é mais difícil, mais trabalhoso, demanda esforço, tempo, saber e caridade. Por isso, o Estado manda os criminosos à forca e as religiões remetem os pecadores, que não são da sua grei, para o inferno. Mas, se aquele é o único processo eficaz, procuremos empregá-lo, e não este, anticientífico, imoral e cruel.

A educação vence e previne o mal. O homem educado conhece o senso da vida, age conscienciosamente com critério, com discernimento: é um valor social. É pela educação que se hão de vencer os vícios repugnantes (haverá algum que o não seja?), que se hão de domar as paixões tumultuárias que obliteram a inteligência e a razão. E, de tal modo, sanear-se-á a sociedade.

Retirem-se os delinqüentes do convívio social, como se faz com o pestoso que ameaça a salubridade pública; mas, como a este, preste-se àquele a assistência que lhe é devida: educação.

E não se suponha, outrossim, que só os criminosos devem ser educados. A obra de educação é obra de salvação, é obra religiosa em sua alta finalidade, é obra científica e social em sua expressão verdadeira. Eduquem-se a todos, cada um na sua esfera, até que a educação se transforme, em cada indivíduo, numa auto-educação contínua, ininterrupta.

Na educação do espírito está o senso da vida, está a solução de todos os seus problemas.

Marcos Paulo de Oliveira Santos
Fonte: http://www.omensageiro.com.br


Respeito ao Embrião e ao Feto

"O MAIOR DESTRUIDOR DA PAZ NO MUNDO HOJE É O ABORTO. NINGUÉM TEM O DIREITO DE TIRAR A VIDA: NEM A MÃE, NEM O PAI, O MÉDICO, A CONFERÊNCIA OU O GOVERNO". Madre Tereza de Calcutá. (Mensagem à Conferência a ONU).

Os médicos espíritas partem do princípio de que a vida é um bem indisponível. A matéria por si só não explica o surgimento da vida na Terra, ocorrido há bilhões de anos. Para nós, o Espírito comanda a matéria e é fruto da criação divina. E isto está sendo comprovado pela ciência, na medida em que ela constata a impossibilidade matemática de que uma célula tenha se formado ao acaso.

Os cientistas, até hoje, não conseguiram definir o que é vida, no entanto, em muitos países, têm se arvorado no direito de interferir indebitamente na gestação, considerando normal a prática do aborto provocado, inclusive - o que é de pasmar - em fetos de seis meses.

Temos o máximo respeito para com todas as mulheres, todavia a elas pertencem tão somente os ÓVULOS e não o OVO, uma vez que este é formado pelos gametas masculino e feminino. A partir daí um nova individualidade está formada, é a vida que fulgura no seu esplendor máximo.

Molly Yard, ex-presidente da Organização Nacional das Mulheres dos EUA, empenhou-se em batalha feroz para legalizar o aborto em seu país. Em entrevista à revista Isto é/Senhor (23/08/89), ela enfatizou: "Não vou descansar até que esse direito fique consolidado nas leis". E, ressaltou: "Num aborto feito no primeiro trimestre da gravidez, o que se perde são algumas colheradas de células, só isso. Aquilo não tem a menor viabilidade de vida independente, fora do útero da mulher". No Brasil, a revista Veja (17/09/97) publicou, como reportagem de capa: "Nós Fizemos Aborto". Atrizes, cantoras, intelectuais, operárias... confessam tê-lo praticado.

Esta é a visão distorcida que é passada às mulheres, através da mídia, reduzindo o extraordinário fenômeno da vida a evento banal e destituído de importância.

Somos, portanto, radicalmente contra o aborto provocado, mesmo em caso de estupro. Devemos explicar à mulher que passa por essa dolorosa experiência, que o ser que se desenvolve em seu ventre, embora formado contra a sua vontade, pertence a Deus. Se ela não conseguir criá-lo que o deixe nascer e o ofereça às casas especializadas para que seja adotado por outra família. Nesse caso, o médico espírita ou não, tem que exercer o papel de educador. E o psicólogo espírita ou não, também tem um papel fundamental, porque vai trabalhar no sentido de que a mulher aceite a gestação e consiga levá-la até o fim.

A única condição de se aceitar o aborto provocado: quando a vida da mãe estiver em perigo pelo nascimento da criança.

O governo deveria ter departamentos especializados de amparo material e psicológico a todas as gestantes, em especial, às que carregam a pesada prova do estupro.

De um modo geral, temos de lutar para que os jovens aprendam a valorizar a vida intra-uterina. É preciso despertar neles o amor pelo embrião e pelo feto. Devemos repassar os conhecimentos que demonstram a grandiosidade da vida, para que desenvolvam sentimentos de respeito e veneração por toda obra divina. Com isso, estaremos restaurando a própria dignidade humana. E os médicos têm uma influência enorme, nesse sentido, como educadores.

...temos de lutar para que os jovens aprendam a valorizar a vida intra-uterina.

Laércio Furlan
Fonte: http://www.omensageiro.com.br


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mediunidade e distúrbios mentais na visão de um médico espírita

Introdução

Ronald Laing, psiquiatra inglês, afirma que “os místicos e os esquizofrênicos encontram-se no mesmo oceano; enquanto os místicos nadam, os esquizofrênicos se afogam.”

A relação entre mediunidade e doença mental vem de muito tempo. Veremos adiante sua relação com o demonismo da era medieval. Allan Kardec dedica o capítulo XVII de O Livro dos Médiuns para tratar dos “Inconvenientes e Perigos da Mediunidade” e questiona se a mediunidade poderia desenvolver a loucura. Os Espíritos respondem que não, desde que não haja predisposição para isso. A resposta ensejará pequena consideração quando tratarmos da visão da loucura, à época de Kardec.


Conceito histórico da loucura

Reconheço que cabe ao Prof. Isaías Pessoti todo o material que serve de base a essa parte, graças ao seu “A Loucura e as Épocas”.

Esquematicamente, veremos o conceito de loucura conforme as épocas mais importantes da humanidade ocidental, nos fixando nos períodos que definiram novos conceitos.


Conceito de Loucura na Antiguidade

A Antiguidade grega tem em Homero, autor de as Ilíadas, a primeira conceituação de loucura. A época de Homero e de Hesíodo tem a loucura como consequente à ação dos deuses, que a usavam como recurso para que os seus desejos não fossem contrastados pelos desejos dos homens.

O homem não é soberano sobre si mesmo, têm os deuses poderes para interferirem como queiram na vida dos mortais. A loucura é de origem externa ao homem, é o roubo da razão pelos deuses, que determinam a vida do homem.

Eurípedes aponta a origem da loucura como decorrente de conflitos internos, o homem não seria conduzido fatalmente à loucura, senão por uma parcela de responsabilidade. Porém, cabe aos deuses roubar a razão.

Hipócrates vê o homem como um ser em equilíbrio orgânico. Qualquer desarranjo nesse desequilíbrio provoca a doença e a loucura. A causa da loucura é a ruptura do equilíbrio orgânico, uma visão aparentemente organicista, não fosse a anátomo-fisiologia de Hipócrates calcada em bases metafísicas.

Quem profundamente marcou o conceito médico de loucura foi Galeno. Ele restaurou a vida psíquica do homem, trazendo o conceito de pneuma psychicon, a sede da vida mental.

A Antiguidade Clássica apresentou, enfim, três perspectivas de loucura. Numa ela aparece como obra da intervenção dos deuses, noutra afigura-se como um produto dos conflitos passionais do homem, mesmo que permitidos ou impostos pelos deuses; numa terceira, a loucura afigura-se como efeito de disfunções somáticas, causadas eventualmente, e sempre de forma mediata, por eventos afetivos.


A Doutrina Demonista

A idéia medieval da intervenção diabólica como causa da loucura, e de outros distúrbios do homem, não deve ser entendida como algo que surgiu naquele momento, de modo circunstancial.

Toda a fundamentação teórica do que chamaremos de período escuro do saber humano, onde a imposição teológica serviu como instrumento coercitivo de poder, vem dos primórdios do cristianismo e surgiu como consequência da doutrina desenvolvida a partir dos Padres Apostólicos até Agostinho de Hipona.

A doutrina que se caracterizou como sendo a doutrina de Cristo, tem em sua concepção teológica, a figura do satanás, no sentido nítido de opositor, como sendo a figura do outro. Os pagãos e tudo que a eles se relaciona passam a ser demônios.

Agostinho afirma que o mal não tem existência própria; Deus permite a existência do demônio para tornar possível o aperfeiçoamento do homem pela busca de Deus.

Tomás de Aquino faz da Escolástica referência da doutrina demonista, que vê o demônio como conhecedor das coisas e dos homens, habita o éter e age com a permissão de Deus.

O mundo se povoou de demônios e, talvez, possamos resumir o que representou essa época de obscurantismo para a psicopatologia compreendendo que, para a doutrina demonista, não se afirma “possesso, portanto louco; mas, louco, portanto possesso.”

Como alguns sinais que evidenciam possessão diabólica, cita Chondrochi:
“…falar línguas desconhecidas ou entendê-las quando faladas por outros; descobrir e revelar fatos ocultos, esquecidos, futuros, secretos, pecados e pensamentos dos presentes; discutir assuntos elevados e sublimes quando se é ignorante; falar com elegância e doutamente quando se é ignorante; sentir-se impulsionado por uma persuasão interior a lançar-se num precipício ou ao suicídio; tornar-se inesperadamente tolo, cego, coxo, surdo, mudo, lunático, paralítico.”


Enfoque Médico da loucura

No século XVII a psicopatologia tem forte inspiração da doutrina platônica e do galenismo. Mesmo assim, o conceito de possessão ainda é admitido como causa da loucura. Mas a loucura passa a ser encarada como fenômeno natural e da alçada médica.

No século seguinte, Cullen afasta-se do galenismo e classifica a loucura como desarranjo das faculdades intelectuais. Não afasta a possibilidade, ainda que remota, da intervenção demoníaca. Arnold reforça que o substrato da loucura é alteração das faculdades mentais, não necessariamente das funções cerebrais.


A Loucura Segundo a Psiquiatria do Século XIX

O início do século passado foi a era de Pinel. Esse alienista que, quando indicado para o Hospital de La Bicêtre, liberta os loucos das amarras por entender que a loucura é fruto da imoralidade, entendida como os excessos e paixões de toda a ordem.

Pinel admite a loucura como lesão das faculdades mentais, de ordem orgânica ou moral. Por isso, propõe um tratamento moral da loucura, indicando a função de um diretor espiritual e ação notadamente repressora sobre os pacientes, que chamaria de reeducação moral.

Esquirol, discípulo de Pinel, esforça-se em buscar uma correlação orgânica com as diferentes formas da loucura, mas admite que existe loucura sem que se detecte qualquer lesão cerebral. Mas toda causa moral tem sua ação obrigatoriamente sobre o encéfalo.

Perchappe, que teve o mérito de um estudo epidemiológico da loucura, afasta do estudo da loucura qualquer especulação filosófica.

Cotard antecipa o enfoque psicodinâmico, mas trata de afastar a metafísica, principalmente a especulação sobre os corpos do homem. Desenvolve uma teoria psicopatológica de repressão do desejo, agindo sobre a mente, mas recusando-se a estudar a alma e o espírito.


Conceito espírita da loucura

Podemos passar ao estudo do conceito espírita da loucura, que teremos em Bezerra de Menezes, “A Loucura Sob Um Novo Prisma” e Manoel Philomeno, desenvolvendo as idéias de Bezerra, em “Loucura e Obsessão”.

À época da Codificação, o conceito de loucura elaborada por Esquirol encontrava enorme repercussão. A busca de um substrato cerebral como causa da loucura, em uma época marcada pelas mesas girantes, faz justificar a mediunidade como fruto da alucinação.

A negação do princípio espiritual, ou a afirmação de uma alma apenas metafísica, faz ver como produto de uma mente excitada os fenômenos visuais da mediunidade. A teoria alucinatória tenta enquadrar a mediunidade na psicopatologia, nos quadros de exaltação delirante.

Mas o que é a alucinação? Um erro da percepção, dirão os alienistas. Mas por que ocorre esse erro? Se é um erro, por que o caráter inteligente da alucinação, que se comunica com o que alucina de forma coerente e racional, dando sobejas provas da existência de um ser comunicante? Qual a fisiopatologia da alucinação?

Allan Kardec responde essas questões em O Livro dos Médiuns, propondo uma teoria da alucinação, que ocorre como decorrência da leitura das impressões cerebrais pela alma emancipada. Onde estariam essas impressões? Na verdade, não no cérebro físico, mas registradas nas camadas mais grosseiras (ou mais densas) do perispírito – especulo ousadamente. O que se ressalta da fisiopatologia da alucinação proposta por Kardec é a inclusão da alma, ou do Espírito reencarnado, atuante, não abstrato.

Desnecessário nos é falar sobre as provas da realidade espiritual. Reforçamos apenas que, o desenvolver de uma teoria espírita da loucura, tem por base o homem/Espírito, tão bem apresentado por Kardec e pelos sábios Instrutores espirituais.

A decorrência natural de assumir-se a primazia do Espírito sobre o corpo é discutir-se o papel do cérebro nas manifestações da alma.

Como pudemos observar na evolução do conceito de loucura, partiu-se de causas exteriores à vontade do homem até a visão hipocrática de alteração dos humores orgânicos. O cérebro se constituiu como órgão do pensamento, até que a doutrina demonista trouxe o terror representado por intervenções além do cérebro, provocando a loucura. Criou-se, depois o termo faculdades mentais como consequência de ter-se loucura mesmo com o cérebro íntegro. No final do século passado a visão de que alteração da fisiologia cerebral traz doença mental, reinforçou a centralização da mente sobre as funções cerebrais.

Hoje, a ciência vê o cérebro como complexa glândula endócrina, indo mais além, possuidor de bilhões de circuitos por onde transitam os pensamentos e as idéias. Onde está a consciência, onde está a mente? Nenhum gênio das ciências da mente saberá responder. Um tema palpitante de especulação científica é o da interação mente-corpo, que é de orientação notadamente organicista, por isso, muito mais próxima do materialismo vigente.

Como consequência dessa visão, que não admite qualquer especulação filosófica nos moldes clássicos, decorrente da postura cientificista de Perchappe, justifica-se, por exemplo, a esquizofrenia como alteração da neurotransmissão cerebral, afetando sistemas neurotransmissores da dopamina, serotonina e noradrenalina, de áreas específicas do cérebro. A mesma série de neurotransmissores, em locais diferentes do cérebro, é evocada para justificar a depressão, a dependência química, entre tantas doenças de manifestação, evolução e tratamento diferentes.

A teoria psicodinâmica, que envolve os fundamentos da psicologia médica, entre elas a psicanálise, a vertente cognitiva-comportamental, entre outras, estabeleceu-se como ramo não-especulativo, modernamente, acomodando-se como subsídio terapêutico e afastando de si as vertentes que não se adequam à submissão ao organicismo.

O livro “A Loucura Sob Novo Prisma”, de Bezerra de Menezes, após apresentar a cosmogonia espírita, começa por definir o papel do cérebro nas manifestações da mente. Seria o órgão do pensamento, gerador dos sentimentos, dos afetos, dos ideais, do amor? A capacidade de amor ou ódio se mede por disposições cerebrais diferentes? Tal especulação repugna à idéia. Reduz o papel dos avatares da humanidade ao de simples produtos de um cérebro anormal (anormal enquanto fora dos padrões usuais). Por outro lado, faz do depravado, do homicida cruel, do serial killer, uma vítima de seu órgão diferenciado, porque pouco desviado do normal. Uma visão como essa justifica uma sociedade que produziu idéias de seleção de raças, a eugenia.

Mas há fragilidade em considerar-se o cérebro a sede da mente, ou consciência. Em 1966, uma notícia teve repercussão em todos os Estados Unidos. Ernest Coe tivera todo o seu hemisfério cerebral esquerdo destruído por um tumor, que foi extirpado cirurgicamente. Para surpresa da equipe médica, o paciente permaneceu vivo por mais de seis meses, mantendo todas as suas funções normais. Destaco que o hemisfério esquerdo é o dito dominante. Mais ainda, se o cérebro é a sede da consciência, como justificar tal fato? Por reação vicariante, ou seja, a hipertrofia de funções pelo lado remanescente?

Mais ainda, em se considerando o cérebro como sede da mente, produtor dos pensamentos, idéias, emoções, sentimentos. Mesmo entre gêmeos univitelinos, existe discordância de 50-40% na incidência de esquizofrenia quando um dos pares é afetado. Fosse o cérebro a sede da mente, por serem os gêmeos univitelinos donos de aparelhos idênticos, por que a discordância e não o fatalismo?

Estejamos prontos para a visão espírita do cérebro como instrumento da mente. Emmanuel define a mente como “o espelho da alma”, em seu livro “Pensamento e Vida”. Na verdade, a mente não é a alma, mas é fruto dela. Não está no cérebro, mas no perispírito, que reflete as disposições do Espírito eterno.

O perispírito intermediário entre o Espírito e o corpo imprime na matéria densa as disposições colhidas nas experiências passadas e atuais, atuando como vigoroso modelador biológico. Assim, cada célula, em sua ligação molecular com o perispírito, recebe as impressões de variada ordem, reflexo da jornada individual. Ao ser encaminhado à reencarnação, o Espírito expressa seu propósito de renovação, confrontando com o arrastamento das tendências. Essa psicologia profunda se irradia por todo o perispírito que a transpõe ao corpo físico, gerando as disposições orgânicas às doenças, que no fundo são sempre de gênese espiritual.

O Espírito se exprime, o que o perispírito manifesta como pensamento. Quando encarnado, encontra no cérebro físico apenas um instrumento. Se esse instrumento encontra-se lesado, não exprimirá o pensamento vindo do perispírito. Mas se o cérebro encontra-se alterado apenas funcionalmente, sem lesão alguma, é porque o gerador do pensamento o faz de modo defeituoso. Qual a causa da alteração do pensamento, em nível anterior ao cérebro, ou seja, no campo do corpo espiritual?

O próprio corpo espiritual pode achar-se alterado transitoriamente, devido a sentimentos diversos, cuja gênese está no remorso, gerado por sentimento de culpa. Pode, também, estar sob a influência nociva de outra mente espiritual, interferindo diretamente sobre suas funções, no caso, obsessão espiritual.

Nos casos onde há o que chamei de alteração transitória do perispírito, transitória no sentido de que não é eterno, ocorre o que conhecemos por processos auto-obsessivos. Nesses fenômenos, não há a interferência direta de entidades estranhas na gênese da psicopatologia de nível espiritual.

O livro “Os Mensageiros”, de André Luiz, traz o caso de Paulo, internado em Posto de Assistência, ligada a Nosso Lar. Esse Espírito, recolhido em estado de profunda alienação, apresentava psicosfera repleta das imagens por ele geradas, quando foi acometido pelo remorso por suas ações nefandas. André Luiz auscuta todos os conflitos que o paciente vivencia, as imagens das pessoas por ele lesadas, as consequências de seus atos. Paulo, esse o nome do Espírito adoentado, experimentava fenômeno auto-obsessivo, já no plano espiritual.

Em “Loucura e Obsessão”, Manoel Philomeno traz-nos o caso de Ânderson, que estava sendo tratado no terreiro de Umbanda, dirigido espiritualmente por Emerenciana. Ânderson se enquadrava no diagnóstico médico de autismo, tal seu estado de introspecção e fuga da realidade. Dr. Bezerra diagnostica processo auto-obsessivo, cuja gênese está em carpir intensa atividade mental em faixas do crime e da viciação, cometendo delitos que podem ser ocultados de todos, exceto da consciência que os registra e exige reparação. Transmite ao cérebro essa realidade, gerando circuitos cerebrais que aniquilam a polivalência das idéias. Tais são os processos depressivos graves, sem resposta terapêutica, por que o cérebro apenas transmite os fenômenos do Espírito adoentado.

No caso em questão, Ânderson buscava sofregamente o refúgio de seu castelo celular para não enfrentar a própria consciência que o acusava, agravado pela presença de cobradores espirituais.

Quando o processo se dá pela interferência obsessiva, geralmente o Espírito interferente logra atingir seus resultados pela sintonia que faz com sua vítima.

Numa rememoração rápida, Allan Kardec classificou a obsessão, conforme sua intensidade, em simples, fascinação e subjugação. André Luiz afirma que os processo de fascinação e subjugação podem ser agravados por fenômeno de vampirização.

O mecanismo que leva à fascinação e à subjugação é apresentado pelo Dr. Bezerra de Menezes, que o subdivide em duas fases distintas, desfalecimento e arrastamento.
Na fase de desfalecimento, o que ocorre é reação advinda da concessão a um mal que subjugava intimamente. Nesse caso, um homem bom, tinha nos seios da alma uma paixão que subjugava e, um dia, por circunstância imprevista, foi por ela arrebatado. Despertado após o mal já cometido, tenta encobrir a falta ao invés de vomitar o veneno, instalando em si o gérmen do desequilíbrio.

Com o abrir das portas da invigilância para os maus Espíritos, é incitado a saciar a sede da paixão represada, porém não o obtém senão às custas de um mergulho profundo. Se começa tremendo, vai envolvendo-se mais e mais, até o total rompimento com os valores que cultivava. Isso é o arrastamento.

Na fase de arrastamento, está de todo vulnerável, as defesas acaso erguidas baixam-se e pode, finalmente, ser atingido por inimigos de outrora, que se tornam empedernidos cobradores, buscando tirar muito mais do que deram, em vingança cruel. Outras vezes, se torna joguete de Espíritos cruéis, que o utiliza como um mero servo de seus desejos, escravizando-o em vampirizações cruéis.

Quem não se lembra do jovem candidato à mediunidade, apresentado por André Luiz em “Os Missionários da Luz”, que traz em seu centro de força genésico duas entidades vampirizadoras, acopladas parasiticamente pela sintonia dos lupanares?

Certa ocasião, foi encaminhado ao nosso Grupo de Desobsessão um jovem, masculino, alcoólico, que apresentava distúrbios da conduta sexual, manifestada por travestismo e prostituição. Buscando auxiliá-lo, em técnica de desdobramento, o médium Z detectou entidade espiritual de aspecto degenerado, de formas esquálidas, como se fosse um corpo mumificado, segurando em sua mão algo semelhante a uma garrafa, fixado ao paciente através do centro genésico. Após intervenção dos dirigentes espirituais na remoção do ser oportunista, houve acentuada melhora do paciente, que até hoje não cumpriu a promessa de retornar ao grupo.

Devemos, também, abordar os casos de loucura decorrentes de alterações funcionais do cérebro que se dão em função de processos expiatórios, decorrentes das faltas cometidas pelo que hoje padece. Nesses casos, como o Espírito culpado gera vítimas, pode-se associar quadros obsessivos que atuam como complicadores da doença.

Quando o Dr. Bezerra de Menezes foi solicitado a acompanhar o caso de Carlos, conforme está no livro “Loucura e Obsessão”, o paciente, de vinte anos, há oito padecia de esquizofrenia do tipo catatônica. O bondoso médico deu o diagnóstico como correto, mas questionou o prognóstico. Além da realidade cerebral, a realidade espiritual de Carlos mostrava agravante quadro obsessivo, complicador de seu resgate expiatório.

O paciente sofria todos os processos orgânicos da doença grave, mas a influência obsessiva perturbava-lhe as funções do sangue, gerando anemia e carências várias.

Tanto nos casos de obsessão de longo curso, como de loucura agravada por subjugação, o cérebro pode sofrer consequências danosas, o que torna a cura complexa e de difícil curso.

O sofrimento imposto pela doença, gerada pelo Espírito, que imprime em seu perispírito os transtornos consequentes às faltas perpetradas, refletidas nas alterações sobre os centros de força nos casos expiatórios, ou em transtornos auto-obsessivos, bem como nos processo de subjugação pelo arrastamento, pode levar o cérebro a processo demenciais.

Isso porque, nos casos expiatórios, os centros de força estão desorganizados, reflexo das faltas passadas e da culpa assumida pelo Espírito. Nos casos de subjugação, a emanação fluídica do Espírito obsessor atua diretamente sobre o perispírito da vítima, também fazendo com que o fluxo energético entre os centros de força não se dê de modo adequado. Nos processos auto-obsessivos, há excessiva contração dos chakras afetados.


Tratamento Espírita da Loucura

Uma vez que tentei tratar de tema tão complexo, vasto, difícil, que é a visão espírita das causas da loucura, o que poderíamos esperar de um tratamento genuinamente espírita?

Nos casos onde há a intervenção médica, as substâncias recomendadas devem ser ministradas. No caso de Carlos, Dr. Bezerra não desaconselha o tratamento médico. Isso porque os anti-psicóticos trazem alívio ao cérebro excitado, diminuem os ricos decorrentes das atitudes bizarras e condutas inapropriadas. Depois, aprimoram, no que é possível, o instrumento já avariado em seus circuitos, ainda que não conseguindo atingir o agente causador do distúrbio, que é o Espírito.

Ao tratar da terapia espírita da loucura, o sábio Bezerra de Menezes propõe:

- Fluidoterapia intensiva: Carlos era submetido, pelos Espíritos, a fluidoterapia quatro vezes ao dia;

- Terapia ocupacional, voltada para o próximo, em atividades de benemerência, que visam despertar o ser eterno e fazê-lo granjear méritos que aliviarão suas dívidas a serem resgatadas;

- Desobsessão, que visa moralizar o Espírito obsessor, não pela repressão, mas pelo convite ao perdão como instrumento da própria liberação;

- Moralização do paciente, que tem por objetivo despertá-lo para os erros cometidos e para a necessidade de renovar-se pela prática do bem.

Nesse ponto, poderíamos questionar como moralizar um louco? É o que questiona o próprio Bezerra de Menezes, para depois responder que o faz através da evocação do Espírito encarnado, fato esse que não se faz sem risco de mistificação, exigindo a mais alta seriedade de propósitos e profundo senso crítico e conhecimento profundo dos mecanismos da obsessão.

A proposta terapêutica espírita é absolutamente uma terapia moral. Desconsideremos aqui o conceito de moral como costumes aceitos, mas ressaltemos moral como conduta de elevação espiritual. Por isso, diferentemente de Pinel, a terapia a ser empregada não é repressora, pelo contrário, visa libertar o doente das amarras através do esclarecimento, do convite à prática de atividades de benemerência, do envolvimento daqueles que, antes de serem tratados por Espíritos obsessores, são seres como nós, que merecem nossa atenção e nosso carinho.

Certa ocasião, em desdobramento fisiológico, fui conduzido ao Sanatório Espírita de Anápolis, para uma praça que não tem equivalência física. Encontrei Justino, um paciente psicótico crônico, cuja família não o suporta, mas que sempre mantive animado relacionamento. Ele estava sério, não tinha a fácies de alienação, mas seu olhar era de uma lucidez que jamais vi em Justino. Se aproximou mais e mostrou-me uma cena em que ele protagonizava um desequilibrado, como o era na realidade cotidiana dessa existência. Disse-me que era louco por imposição da corrigenda, que sofria muito, como Espírito, vivenciar tudo aquilo, as experiências como um celerado.

Desde aquele dia, percebi que Justino não era doente, era um ser como qualquer um de nós, ele tinha alma. Suas dificuldades, oriundas de pesada expiação, por certo não encontrariam alívio imediato nessa existência, e lembrei-me do amigo Bezerra de Menezes, que dava apenas o que tinha de si, o amor.

Quando diante de irmãos em expiações pelos corredores da alienação, lembremos da Dra. Kübler-Ross que, nomeada psiquiatra numa instituição que abrigava psicóticos crônicos, ofereceu a eles amor, e, aos poucos, eles foram recobrando a lucidez que lhes era ainda possível, mas o suficiente para retornarem aos seus lares.

- Jorge Cecílio Daher Júnior (GO) -

Fonte: www.ipepe.com.br


sábado, 9 de maio de 2009

Lei de Conservação



Todos os seres vivos possuem o instinto de conservação, seja qual for o grau de sua inteligência. Nuns, é puramente maquinal, racionado em outros. Todos os seres têm que concorrer para o cumprimento dos desígnios da Providência, daí porque Deus lhes outorgou o instinto de conservação. Acresce que a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem.

Meios de conservação

Tendo dado ao homem a necessidade de viver, Deus lhe facultou, em todos os tempos, os meios de o conseguir. Essa a razão porque faz que a Terra produza de modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil. A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se.

Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. Buscai e achareis, estas palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe para a Terra, mas que lhe é preciso procurá-lo, não com indolência, e sim com ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a Providência para lhe experimentar a constância, a paciência e a firmeza. Nos mundos de mais apurada organização, os seres vivos também têm a necessidade de alimentar-se, porém seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Tais alimentos não seriam bastante substanciosos para os nossos estômagos grosseiros; assim como os deles não poderiam digerir os nossos alimentos.

Gozo dos bens terrenos

O uso dos bens terrenos é um direito de todos os homens. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo. Pôs atrativos no gozo dos bens materiais, objetivando, assim, desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos. O homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade.

Necessário e supérfluo

Aquele que é ponderado conhece o limite do necessário por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa. Por meio da organização que lhe deu, a Natureza traçou ao homem o limite das necessidades; porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais. Os que açambarcam os bens da Terra para se locupletarem com o supérfluo, em prejuízo daqueles a quem falta o necessário, olvidam a lei de Deus e terão de responder pelas privações que houverem causado aos outros.

Privações voluntárias - Mortificações

A lei da conservação obriga o homem a prover as necessidades do corpo, porque, sem força e saúde, impossível é o trabalho. É natural que o homem procure o bem-estar. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação.

Há privações voluntárias que são meritórias, como a dos gozos inúteis, porque desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante. A vida de mortificações ascéticas, se somente serve para quem a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendem de colori-la.

Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a cariade cristã.

Não é racional a abstenção de certos alimentos, pois, permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que não lhe prejudique a saúde. A alimentação animal, com relação ao homem, não é contrária à lei da Natureza, pois, dada a sua constituição física, a carne alimenta a carne. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame sua organização.

Os sofrimentos naturais são os únicos que elevam o homem, porque vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem. Não se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas. Sofrer alguém, voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos.

Texto extraido do site: ww.espirito.org.br
Fonte: http://sejaespiritaonline.blogspot.com/


União Infeliz

“Nas ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias; no entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados pelas mais duras provações.”


Dolorosa, sem dúvida, a união considerada menos feliz. É claro, que não existe obrigatoriedade para que alguém suporte, a contragosto, a truculência ou o peso de alguém, ponderando-se que todo espírito é livre no pensamento para definir-se, quanto às próprias resoluções.

Que haja, porém, equilíbrio suficiente nos casais unidos pelo compromisso afetivo, para que não percam a oportunidade de construir a verdadeira libertação.

Indiscutivelmente, os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade da Vida; todavia, antes que a vida os registe por fora, grava em nós mesmos, em toda a extensão, o montante e os característicos de nossas faltas.

A pedra que atiramos no próximo talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas permanece conosco na figura de sofrimento.

E, enquanto não se remove a causa da angústia, os efeitos dela perduram sempre, tanto quanto não se extingue a moléstia, em definitivo, se não a eliminamos na origem do mal.

Nas ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias; no entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados pelas mais duras provações.

Isso porque, embora não percebamos de imediato, recebemos, quase sempre, no companheiro ou na companheira da vida íntima, os reflexos de nós próprios.

É natural que todas as conjunções afetivas no mundo se nos figurem como sendo encantados jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de educação, cujo prefácio nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir.

A existência física, entretanto, é processo específico de evolução, nas áreas do tempo, e assim como o aluno nenhuma vantagem obterá da escola se não passa dos ornamentos exteriores do educandário em que se matricula, o espírito encarnado nenhum proveito recolheria do casamento, caso pretendesse imobilizar-se no êxtase do noivado. Os princípios cármicos desenovelam-se com as horas.

Provas, tentações, crises salvadoras ou situações expiatórias surgem na ocasião exata, na ordem em que se nos recapitulam oportunidades e experiências, qual ocorre à semente que, devidamente plantada, oferece o fruto em tempo certo.

O matrimônio pode ser precedido de doçura e esperança, mas isso não impede que os dias subsequentes, em sua marcha incessante, tragam aos cônjuges os resultados das próprias criações que deixaram para trás. A mudança espera todas as criaturas nos caminhos do Universo, a fim de que a renovação nos aprimore.

A jovem suave que hoje nos fascina, para a ligação afetiva, em muitos casos será talvez amanhã a mulher transformada, capaz de impor-nos dificuldades enormes para a consecução da felicidade; no entanto, essa mesma jovem suave foi, no passado - em existências já transcorridas -, a vítima de nós mesmos, quando lhe infligimos os golpes de nossa própria deslealdade ou inconsequência, convertendo-a na mulher temperamental ou infiel que nos cabe agora relevar e retificar.

O rapaz distinto que atrai presentemente a companheira, para os laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será provavelmente depois o homem cruel e desorientado, suscetível de constrangê-la a carregar todo um calvário de aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe palpitam na alma.

Esse mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito - em existências que já se foram – a vítima dela própria, quando, desregrada ou caprichosa, lhe desfigurou o caráter, metamorfoseando-o no homem vicioso ou fingido que lhe compete tolerar e reeducar.

Toda vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no ajuste sexual, ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois somente depois - surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à frente de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir-nos justamente nos pontos em que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar-nos o pagamento de contas certas, mas, sobretudo, a esmolar-nos compreensão e assistência, tolerância e misericórdia, para que se refaça ante as leis do destino.

A união suposta infeliz deixa de ser, portanto, um cárcere de lágrimas para ser um educandário bendito, onde o espírito equilibrado e afetuoso, longe de abraçar a deserção, aceita, sempre que possível, o companheiro ou a companheira que mereceu ou de que necessita, a fim de quitar-se com os princípios de causa e efeito, liberando-se das sombras de ontem para elevar-se, em silenciosa vitória sobre si mesmo, para os domínios da luz.

Texto extraido do livro "Vida e Sexo" de Francisco Cândido Xavier
(ditado por Emmanuel).
Fonte: http://sejaespiritaonline.blogspot.com/


Quem foi Emmanuel?

“Durante os vários anos de mediunidade, Chico Xavier sempre pôde contar com a ajuda desse companheiro inseparável para ter forças e prosseguir na missão de levar a palavra espírita para toda a humanidade.”


Por mais de 70 anos, Chico Xavier esteve unido com Emmanuel, seu mentor espiritual, na missão de propagar os ensinamentos do Espiritismo. Com certeza, este é o relacionamento entre um encarnado e um desencarnado mais conhecido e comentado dos últimos tempos, pois é impossível para todos aqueles que acreditam e seguem a doutrina espírita imaginá-los separados. Por meio da inquestionável mediunidade psicográfica de Chico, ambos realizaram um trabalho que jamais se perderá com o tempo, tamanho o acervo de informações e conhecimentos encontrados em centenas de obras publicadas.

O mentor que acompanhou o médium mineiro desde a infância só veio a se manifestar pela primeira vez duas décadas depois, em uma das reuniões na fazenda de Dona Carmem, que ouviu nitidamente uma voz pedindo lápis e papel, pois iria ditar uma mensagem. Em seguida, esse espírito se identificou como Emmanuel e, daí em diante, ficou mais próximo do médium e companheiro inseparável.

As produções psicográficas começaram em 1927, porém, as mensagens recebidas até 1931 foram inutilizadas, atendendo a um pedido de Emmanuel, pois elas tinham o objetivo de treinar Chico. A partir de então, o mentor assumiu o encargo de orientar todas as atividades mediúnicas dele.


As encarnações passadas

Em muitas obras de Chico Xavier, os prefácios trazem palavras de Emmanuel sobre suas encarnações passadas. Porém, questionado várias vezes sobre o assunto, ele sempre preferiu não tecer maiores comentários, alegando razões particulares e relevantes.

Entre algumas de suas dissertações, encontram-se passagens de fundamental importância para a compreensão do universo de sua tarefa junto ao querido médium mineiro. No romance Há Dois Mil Anos, por exemplo, Emmanuel descreve uma de suas encarnações anteriores, quando foi o senador romano Públio Lentulus na época em que Jesus esteve na Terra. Cogita-se que Chico possa ter sido a filha dele, chamada Flávia, fato que teria constituído um forte elo de amor que perdura ainda hoje, porém, nada foi confirmado até então.

No livro 50 Anos Depois, Emmanuel se dirige mais uma vez aos leitores para relatar sua passagem no plano terrestre, desta vez como um escravo chamado Nestório. Segundo ele, a finalidade dessa reencarnação, ocorrida cinquenta anos depois do desencarne do senador romano, era a de reparar erros do passado.

Ele prossegue nos relatos sobre suas vidas anteriores no romance Renúncia, quando diz que esteve encarnado como padre Daminiano, vigário da igreja de São Vicente, na cidade espanhola de Ávila.

Há indícios também de que Emmanuel teria sido o padre Manoel da Nóbrega, famoso catequisador do início da colonização brasileira e um dos fundadores da cidade de São Paulo (SP). No livro Amor e Sabedoria de Emmanuel, do professor Clóvis Tavares, encontra-se o seguinte comentário: "Completam-se, assim, neste 1970, quatrocentos anos de Nóbrega (Padre Manoel da Nóbrega) e quarenta anos de Emmanuel, nesse apostolado espiritual de oferecer um novo sentido da vida aos filhos da Terra".

Enfim, durante todo esse tempo de trabalho conjunto, um vivendo no plano terrestre e o outro no mundo dos espíritos, muito se questionou sobre a identidade do passado encoberta pela sabedoria divina. A dúvida permanece sem respostas concretas, mas será que tal questão possui maior importância do que todo o bem que os dois fizeram pela humanidade? Basta analisarmos o conteúdo das obras e, principalmente, o grande exemplo de renúncia dedicados em favor do bem comum para que a resposta não demore a aparecer.

Texto extraído do Artigo “Emmanuel, mentor e amigo “ da Revista Cristã de Espiritismo, edição especial 05.
Fonte: http://sejaespiritaonline.blogspot.com/


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Desdobramento

Projeção astral - Fenômeno anímico que permite ao espírito libertar-se do corpo parcialmente e estar em outros lugares



Dezessete de maio de 1953, entre 13h e 14h, em frente ao Cassino lnterlaken, Suíça. Joaquim da Silva Gomes, juntamente com sua esposa, Maria Estela Barbosa Gomes, deixavam-se fotografar pela filha Terezinha. Dias depois, chegando em Portugal, revelaram o filme e esta foto os surpreendeu profundamente: ao lado do casal, com toda nitidez, aparecia o Dr. Otávio Bandeira de Lima Coutinho, grande amigo da família, que deveria estar em sua residência, no Recife!

Na suposição de que o amigo tivesse desencarnado, Joaquim enviou a foto a uma das filhas do Dr. Otávio. Este de pronto remeteu uma carta bem humorada ao amigo, identificando-se na foto e reconhecendo inclusive o terno, a gravata e o alfinete como seus, pois estavam bem visíveis. Esclareceu que, na data e no horário em que foi batida a foto, adormecera numa cadeira de balanço na varanda de sua residência. Disse não se recordar de nada que se relacionasse com a foto, a não ser que pensara muito nos amigos distantes antes de adormecer.

Este é um caso típico de desdobramento ou bilocação (projeção astral), narrado pelo Anuário Espírita – 1983. É o fenômeno pelo qual o espírito de pessoa mediunizada, ou em estado de sonolência ou mesmo de sono, transporta-se de um lugar para outro com aparência de realidade ou com tangibilidade real.


Desdobrado do corpo, o espírito sente-se liberto

Segundo Kardec, o espírito aproveita-se com satisfação da oportunidade de escapar da prisão corporal sempre que pode. É um dos mais curiosos e ricos fenômenos anímicos, em que o ser se move livremente, pensa melhor, decide com maior conhecimento, mantém intenso intercâmbio com encarnados e desencarnados, segundo seus interesses e afinidades.

É frequente ocorrer com todas as pessoas, porém nem todas conseguem se lembrar, após o regresso ao corpo físico, do que fizeram durante o tempo em que estiveram parcialmente libertadas deste. Geralmente atribuem tudo a um sonho comum, ou seja, aquele resultante de suas disposições físicas ou psicológicas.

Diz Hermínio Miranda que “é nesse estado que o espírito consegue entrar na posse de algumas de suas faculdades superiores, pelo acesso aos arquivos da sua memória integral. Daí lembrar-se de encarnações passadas e até mesmo, em situações especiais, afastar a densa cortina que encobre o futuro”.

Por sua vez, Martins Peralva, ao analisar as situações em que pode ocorrer essa libertação espiritual, chama a atenção para a existência, nos trabalhos mediúnicos, do chamado médium de desdobramento, ou seja, “aquele cujo espírito tem a propriedade ou faculdade de desprender-se do corpo, geralmente em reuniões”. Desprende-se e excursiona por vários lugares na Terra ou no Espaço, a fim de colaborar nos serviços, consolando ou curando.

No caso de um médium de desdobramento desejar aprimorar a sua faculdade e aumentar os seus recursos, diz o autor que há condições de ordem moral das quais não pode prescindir: vida pura, aspirações elevadas, potência mental, cultivo da prece e exercício constante.

A respeito desse tipo de médium, diz André Luiz: “considerável número de pessoas, principalmente as que se adestram para esse fim (desdobramento), efetuam incursões nos planos do espírito, transformando-se, muitas vezes, em preciosos instrumentos dos benfeitores da espiritualidade, como oficiais de ligação entre a esfera física e a esfera extrafisica”.

Um depoimento de Hermínio Miranda confirma exatamente essa atividade mediúnica. Diz o autor, referindo-se a uma personagem do seu livro Diversidade dos Carismas: “É comum observar-se em Regina o trabalho mediúnico específico e bem caracterizado em desdobramento. Em várias oportunidades, em vez do espírito manifestante ser trazido ao grupo, ela é que vai ao encontro dele, o que dá conhecimento antecipado ao dirigente dos trabalhos. Desprende-se e é levada pelos amigos espirituais”.


Segundo desdobramento

Mas as pesquisas revelam que não se trata de um fenômeno restrito aos seres que ainda estão na carne. Experiências realizadas por Albert de Rochas informam que poderá ocorrer um segundo desdobramento, a partir do perispírito já desdobrado do corpo físico, quando se separa daquele a essência espiritual.

Este fenômeno é ratificado por André Luiz em Nosso Lar, quando o autor desencarnado visitou, conscientemente, o espírito de sua mãe, habitante de plano superior ao seu, após desdobrar-se de seu corpo perispiritual que ficara em repouso numa das unidades da instituição à qual fora escolhido.

Toda obra de caridade da espiritualidade, inclusive as que podem se realizar durante um desdobramento, lembram-nos os versículos da Surata do Socorro, no Alcorão:

“1. Quando te chegar o socorro de Deus e o triunfo; 2. E vires entrar a gente, em massa, na religião de Deus; 3. Celebra, então, os louvores de teu Senhor e implora o Seu perdão, porque Ele é remissório”.


Escrito por René Artur de Barros Monteiro
Fonte: Revista Cristã de Espiritismo

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Os milagres de Jesus

Quando Jesus curava alguém, dizia: “tua fé te salvou”, do que se deduz que existiram pessoas que não foram curadas, porque não tinham fé suficiente...


Na história, é bastante comum a crença na existência de milagres devido a acontecimentos inexplicáveis. Muitas pessoas descobriram ou recuperaram a fé após a realização do que parecia impossível aos recursos materiais. Os denominados milagres de Jesus desafiam até hoje as explicações científicas e fascinam a todos devido à grandeza de seus atos em benefício do planeta.

Para a doutrina espírita, milagres não existem, pois nada foge as leis naturais.

O livro da codificação espírita, A Gênese, ressalta que os fenômenos nos quais o elemento espiritual tem parte preponderante não podem ser explicados apenas pelas leis da matéria. Talvez, o grande desafio ainda seja desvendar o que os “milagres” significam e o que podem ensinar sobre a vida e a perfeição Divina, que não privilegia nenhum de seus filhos. Quanto aos milagres relatados nos Evangelhos, o livro O Sublime Peregrino, ditado pelo espírito Ramatís, faz comentários importantes a respeito: “O Mestre realizou inúmeras curas e renovações espirituais, que não devem ser consideradas milagres, mas resultantes de suas faculdades mediúnicas. Em virtude de sua elevada hierarquia espiritual e da incessante cooperação das entidades angélicas que o assistiam, tudo o que ele realizava nesse sentido, embora tido por miraculoso, era apenas consequência da aplicação inteligente das leis transcendentais”.

Com o objetivo de compreendermos melhor o significado dos milagres e suas interpretações, entrevistamos o palestrante e escritor José Reis Chaves, que tem diversos livros publicados sobre a Bíblia e a história do cristianismo, tais como: A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência; A Face Oculta das Religiões; Quando Chega a Verdade e em fase de preparação, Teologias em Conflito e A Bíblia e as Teologias.

Comente sobre as passagens bíblicas que falam a respeito dos milagres de Jesus e suas interpretações.

Foi a Universidade de Paris, administrada pela Igreja (com um domínio total dos padres no século XIX), que definiu que o milagre é uma transgressão da lei da natureza, e que, por isso, é um fenômeno sobrenatural. Todas as curas feitas por Jesus e definidas como sendo milagres, são fenômenos naturais e explicados pela ciência, exceto os narrados com exageros, mas que por isso mesmo não têm crédito entre os exegetas espíritas, católicos e uma parte das igrejas protestantes. Aliás, é sabido que um dos maiores erros das religiões sempre foi o exagero.

Quando Jesus curava alguém, dizia: “tua fé te salvou”, do que se deduz que existiram pessoas que não foram curadas, porque não tinham fé suficiente. Mas isso não é narrado pelos evangelistas, pois eles só tinham interesse em narrar fatos que exaltassem Jesus.

Por que no passado, principalmente nos primórdios do cristianismo, as curas de Jesus eram consideradas milagrosas ou sobrenaturais?

Por superstição ou ignorância das pessoas da época, quando na verdade, se tratavam de fenômenos naturais. Para o apóstolo Paulo, eram dons espirituais do indivíduo e não do Espírito Santo da Trindade, que era totalmente desconhecido por ele. Somente Deus é sobrenatural, mas tudo que Ele próprio criou é natural. Para São Tomás de Aquino, considerado o “doutor angélico” da igreja, Deus é o único ser incontingente, isto é, incriado, que não é causado por outro ser, e que não se origina de outro, sendo todos os outros seres existentes, inclusive os fenômenos, seriam contingentes. Portanto, o milagre, na definição que lhe deram os teólogos da Universidade de Paris, não existe, pois as leis de Deus são imutáveis. Jesus também nos ensinou que tudo que o ele fez nós poderíamos fazer também, isso fica bastante claro.

De acordo com seus estudos bíblicos, os relatos relacionados com os milagres de Jesus estão exatos ou foram alterados?

Segundo os estudiosos da Bíblia e exegetas católicos mais avançados, somente 18% das coisas atribuídas a Jesus nos Evangelhos são autênticas. Isso porque a Bíblia é provavelmente o livro mais alterado que existe. É que os estudiosos da Bíblia do passado desconheciam a advertência do evangelista João, em sua primeira Carta(4:1), que nos manda examinarmos os espíritos, para sabermos se são de Deus ou do “mal”. É o mesmo erro que cometem os carismáticos católicos e os evangélicos, para os quais, os espíritos que se lhes manifestam é Deus, que eles chamam de Espírito Santo.

Hoje com o conhecimento sobre a mediunidade, ectoplasmia e outros fenômenos, é possível compreender melhor as curas de Jesus?

Sem dúvida, o estudo dos fenômenos mediúnicos, entre eles, o de ectoplasmia, têm trazido muitos esclarecimentos para desvendar os acontecimentos considerados sobrenaturais na Bíblia, quando não passam de fenômenos naturais mediúnicos. A transfiguração é um exemplo disso, quando no Monte Tabor, materializaram-se os espíritos Moisés e Elias, fato presenciado também pelos apóstolos e médiuns especiais João, Pedro e Tiago. Até mesmo os comentários de padres e pastores sobre esse episódio bíblico são escandalosos, pois acentuam até a exaustão que a roupa de Jesus era branca como a neve e que brilhava como o sol, mas fazem silêncio sobre o principal, ou seja, sobre a verdadeira sessão espírita que ocorreu. Lembremo-nos de que, sabendo Jesus que a Lei de Moisés (não a de Deus) proibia a comunicação com os espíritos, pediu aos três apóstolos que guardassem segredo sobre o que haviam presenciado.

Recordemos também de que a própria proibição de Moisés da comunicação com os espíritos (Deuteronômio, capítulo 18) prova que essa comunicação existe de fato. Ademais, Moisés a aceita no Livro de números (11,26 a 29), nos episódios envolvendo os médiuns Heldade e Medade.

O fato de Jesus não ter curado todos os enfermos, pode ser o ponto chave para a compreensão de que milagres não existem e sim o poder da fé?

Existe um poder de cura, sim. É o caso de médiuns de cura e do próprio Jesus, que era um médium especial de cura, pois estava sempre curando as pessoas (Lucas 13:32). Paulo falou também nesses fenômenos de curas, que ele denominou “operações de milagres” (I Coríntios 12:10), mas milagre para ele não tinha o sentido que tem hoje, ou seja, aquele de que é a transgressão da lei da natureza, dado pela Universidade de Paris, como já dissemos, no século XIX. Porém, como já foi dito também, a fé ajuda e muito na cura. A fé atua abrindo as portas para a entrada das energias benfazejas. Ela ajuda a criar entre o curador e o curado uma sintonia, como se fosse entre um transmissor e um receptor, fazendo surgir entre os dois uma empatia.

Escrito por Érika Silveira Fonte: Revista Cristã de Espiritismo www.rcespiritismo.com.br


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Jesus "tentado por Satanás"

Dizem os apologistas cristãos que quando Jesus foi "tentado por Satanás" (Lucas 4 e Mateus 4), "Satanás" também se fez de "anjo de luz" como nas manifestações no Espiritismo. Mas o que lemos é que "Satanás" tentou Jesus com propostas arrojadas, materialistas, tentando afastar Cristo de sua missão, como "o poder sobre todos os reinos da Terra em troca de sua submissão". O que tem de "luz" nisso? Só porque ele cita versículos bíblicos? Isso pode ter valor para alguns apologistas cristãos, assim como tinha para os fariseus. Não para o Espiritismo, que, conforme a parábola do bom samaritano ensinada pelo Cristo, ensina que o que agrada a Deus é a nossa conduta moral.

Satanás é um mito, uma lenda inspirada no Zoroastrismo persa. Mesmo considerando que um espírito imperfeito, voltado para o mal, o tivesse tentado, é um absurdo. É um símbolo ou uma interpolação. E é mais absurdo ainda para os que acreditam que Jesus é Deus. Como disse Léon Denis: "Se Jesus era Deus, poderia Satanás ignorá-lo? E como teria a pretensão de exercer influência sobre ele"?

Cristo não era Deus, mas um espírito puro, o mais perfeito a vir até esse mundo. Qual o Espírito das Trevas, por mais destemido que fosse, teria a audácia de enfrentar o Cristo para lhe fazer propostas de ordem nitidamente humana? Os evangelistas narram que os espíritos trevosos se sentiam espavoridos pela simples aproximação do Mestre, haja vista, para ilustração, o célebre caso do possesso geraseno (Marcos 5:6-7). Ora, assim como qualquer treva desaparece ao raiar do sol, qualquer espírito trevoso se afasta, quando uma entidade sublimada, da categoria daquela a que pertence Jesus, se apresenta.

Os evangelhos se contradizem. Segundo Mateus foi em cima de uma Montanha (4,8). Segundo Lucas foi em Jerusalém, no pináculo do Templo (4,9). Assim, em Mateus o cenário da tentação é: a) deserto; b) Templo; c) Montanha. Em Lucas o cenário é: a) deserto; b) montanha; c) Templo de Jerusalém.

Essa crença fica mais ilógica, quando as narrações afirmam que Jesus estava no deserto, e as sugestões de "Satanás" aconteceram no pináculo do Templo de Jerusalém, ou em cima de uma montanha - o que faz crer que o que era assim levitado era o Espírito de Jesus, sem o corpo.

Jamais poderemos aceitar as narrativas evangélicas em torno da "tentação" de Jesus, como expressões fiéis de um fato acontecido, quando apreciadas em seu sentido literal. Jesus certamente foi para o deserto, esteve lá sozinho orando, e o resto é lenda. Mas também um ensino que objetiva demonstrar que o simples fato de estar na Terra, mesmo em se tratando de Espíritos de elevada hierarquia, envolve a necessidade de oração e vigilância, em face dos atrativos que a vida humana oferece àqueles que se deixam seduzir pelas coisas de César.

"Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus." (Mateus 4:7)

Insistem que esse versículo comprova que Jesus é Deus. Muito pelo contrário! "Satanás" na verdade tentava a Deus ao insistir que Jesus desobedecesse ao seu Pai, o verdadeiro e único Deus, e que adorasse "Satanás" acima de todos. (versículo 9: "disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares."). Ora, "Satanás", se soubesse que Jesus é Deus, não iria pedir que Jesus o adorasse. Diante da insistência de "Satanás", Jesus diz, no versículo 10: "Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás." E era o que Jesus fazia, sempre adorando e orando a Deus acima de todos.

Certamente, não orava e adorava a si mesmo.

Fonte: http://www.sitepalace.com/espiritismoehcristao/index.html


A Igreja Católica foi fundada por Jesus?

"Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do hades não prevalecerão contra ela; dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus." (Mateus 16:16-19)

Com base nesses versículos, católicos dizem que Cristo fundou a Igreja Católica tendo Pedro como Papa.

Apresento abaixo alguns argumentos contra essa idéia, com a visão do Espiritismo para essa passagem bíblica:

1) Na verdade, a palavra grega ekklêsia, traduzida como "igreja", significa "assembleia" ou "congressão", ou seja, uma reunião de indivíduos com o mesmo propósito. Nada a ver com a "Igreja" no sentido de instituição ou a "igreja" no sentido de templo. Nem existia palavra no grego para "igreja" no sentido em que entendemos hoje. Não era dessa Igreja como conhecemos que Jesus falava.

2) Em outro versículo, diz Jesus sobre a sua "Igreja": "Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." (Mateus 18:20).
Então, Jesus não falava dessa Igreja com sua hierarquia, seus templos, sua riqueza material, seu poder terreno, e sim de uma assembleia, uma reunião de pessoas reunidas em nome de Jesus, onde ele estaria em espírito. Lá Jesus estará, seja um templo católico, seja um templo protestante, um centro espírita, um centro umbandista, etc.

3) Hoje em dia a Igreja tem uma hierarquia com padres, bispos, cardeais, etc, tendo o Papa como o grande líder e considerado o representante de Jesus na Terra. Mas com Cristo, seus discípulos e nas primeiras comunidades cristãs não tinha nada assim, tanto que Cristo disse: "Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo." (Mateus 23:8-10).
Só Jesus é líder. Ele não deu a Pedro nenhuma autoridade na Terra e muito menos disse que Pedro teria sucessores. A hierarquia começou com Catolicismo, séculos depois do Cristo. Muito diferente do que acontecia nas "assembleias".

4) "Pois também eu te digo que tu és Pedro (x), e sobre esta pedra (y) edificarei a minha igreja, e as portas do hades não prevalecerão contra ela;": x= o nome de Pedro, petros em Grego, é referência a um específico tipo de pedra ou rocha; y=petra, em Grego, um tipo de rocha sólida, um fundamento firme. Petra se refere a Jesus e não a Pedro, como querem os católicos. No versículo 16, Pedro diz "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.", demonstrando sua fé no Cristo, e sobre essa fé estaria fundamentada a "assembleia" e não sobre a pessoa do Pedro o "Papa".

5) Os seguintes versículos, onde petra aparece como rocha, nos provam que o fundamento daquela assembleia é de fato o Cristo, não Pedro: (Lucas 6:47-48; Mateus 7:24-25; Romanos 9:33; 1 Coríntios 10:4).
E Paulo ainda disse, em I Coríntios 3:11 "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo".

6) Sendo ekklêsia uma "assembleia", claro está que essa promessa não poderia ser só para Pedro mas para os outros seus discípulos, pois "assembleia" é constituida obviamente por várias pessoas.

7) De fato, Jesus faz essa promessa a seus outros discípulos em Mateus 18:18.

8) "dar-te-ei as chaves do reino dos céus": A Igreja entende que Jesus deu a Pedro e seus "sucessores" o direito de abrir e fechar as portas do céu, ou seja, de escolher quem entrará ou não no céu. Gostam de usar isso para "provar" a autoridade dos sacerdotes "escolhidos por Cristo" na Terra. Mas Cristo se referia a Pedro, não seus "sucessores". Fez uma promessa a Pedro e também a outros dos seus discípulos, mas não falou que haveria sucessores em uma instituição humana poderosa com uma hierarquia de poderes terrenos.

9) A palavra "chave" aqui não é, como a Igreja quer, a chave no sentido literal para abrir e fechar a porta do céu, deixando de fora os “infiéis”. A palavra grega é kleis. Greek-English lexicon define kleis como uma metáfora que no Novo Testamento define poder e autoridade de vários tipos. Dizer que um empregado tinha a "chave da casa" era o mesmo que dizer que ele era de confiança para algumas tarefas diárias. Pedro - assim como outros discípulos - não seria um "porteiro do céu", um "guardião celestial". Não, Jesus falava figurativamente. A Pedro e seus outros discípulos Jesus confiaria algumas tarefas específicas no Reino de Deus.

10) A Igreja diz que as "portas do inferno" seriam as "heresias", entre elas, é claro, a reencarnação, e que a "Santa Igreja" não seria vencida por nenhuma delas. Mas não foi isso que Cristo disse. Em primeiro lugar, como demonstrado, Cristo se referia ao grupo de pessoas formado por Pedro e outros discípulos.
Pessoas que Cristo escolheu pelo valor espiritual - todos médiuns, inclusive - e não pessoas dentro de uma hierarquia com poderes terrenos.

11) "Portas do Hades"- ou "portas do inferno" - no grego é "pulai hadou". A palavra hadou é substantivo possessivo de hades, que é aqui uma referência ao túmulo. Naqueles tempos, os túmulos dos judeus ficavam em um lugar com portões ou portas pesadas. Vejamos o que disse Paulo nesses versículos: "Mas digo isto, irmãos, que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus; nem a corrupção herda a incorrupção. Eis aqui vos digo um mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? " (1 Coríntios 15:50-55). A palavra aqui traduzida como "morte" é "hadês", igual em (Mateus 16:18). Em ambas as passagens, hadês se refere ao túmulo e a morte em geral. Ao dizer que "as portas do túmulo" não iriam prevalecer contra aquela assembleia, Cristo dizia simplesmente que aquela assembléia venceria a morte, assim como Jesus. Ou seja, Cristo falava da ressurreição, mas a ressurreição espiritual, como nós espíritas entendemos. Aquela que todos nós veremos um dia quando não precisarmos mais vir ao mundo exceto em missão: "Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos que estão nos céus." (Marcos 12:25). A assembleia do Cristo, formada por Pedro e outros escolhidos pelo Cristo, prosseguiria, após o desencarne, no plano espiritual.

12) A palavra grega didômi, “dar”, está usada no tempo futuro, doso. Jesus disse, então, que daria as chaves a Pedro futuramente e não que dava naquele momento. O daria no futuro, no plano espiritual, não em vida.

13) Emmanuel diz em seu livro "A Caminho da Luz" que Cristo é o Governador Espiritual de nosso planeta. E também lemos na Bíblia Jesus dizer, em Mateus 28:18,: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra." (ou seja, no plano espiritual e no material). E os escolhidos por Cristo, ou seja, a sua "assembleia", trabalham com ele, com a “chave” (a confiança) que Jesus lhes deu.

14) O Cristianismo mais tarde se tornou religião oficial do Império Romano com o Imperador Constantino, o pai do absurdo dogma da Trindade, transformado em regra de fé, e foi se desvirtuando ao longo dos anos. Mas esse é outro longo assunto que não cabe aqui.

15) Pedro não foi o primeiro Papa porque:

15.1) Foi apenas um dos dozes apóstolos (Matheus 10:1-2; Marcos 3:13-19; Lucas. 6:13-16).

15.2) Foi apenas um dos três amigos próximos de Jesus (Mt. 17:1; 26:36-37)

15.3) Negou Jesus 3 vezes (Mt. 26:69-75)

15.4) Era um homem casado (1 Cor. 9:5; Matheus 8:14)

15.5) Foi repreendido por Jesus (João 21:20-22; Mt. 16:23) e por Paulo (Gal. 2:11).

15.6) Nunca aceitou reverência (Atos 10:25-26; Apocalipse 19:10; 22:9)

15.7) Não era superior a outros apóstolos (Mt. 18:18; 2 Cor.11:5;12:11)

15.8) Disse Jesus para os 12 apóstolos, não apenas Pedro: “sentar-vos-eis também vós sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (Mateus 19:28)

15.9) A cabeça da Igreja é Jesus e não Pedro (Efésios 1:22-23; Colossenses 1:19)

15.10) Pedro não foi eleito o Vicário de Cristo na Terra (sem referência)

15.11) Pedro nada disse sobre “sucessores”.

15.12) Nem Pedro e nem outro discípulo disseram ser “O Maior no Reino”. Pelo contrário, eram todos iguais (Mt. 18:1-4; 20:20-28)

15.13) Tanto Pedro quanto Paulo se referiam a Jesus como a “pedra”, ou seja, o único fundamento (Atos 4:12; Efésios 2:20)

15.15) Está claro que Pedro e os outros discípulos são apenas os edificadores da “Pedra”, que é Jesus (Atos 4:11-12; Efésios 2:19-20)

15.16) “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos." (Lucas 22:31-32)
Isso não pode ser considerado como prova de que Pedro é infalível, pois Pedro errou tanto em seu ministério que Paulo o condenou como herético (Lucas 22:31-32).

15.17) “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas- me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas" (João 21:15-17).
Isso de forma alguma prova que Pedro é Papa. Jesus estava revertendo as três negativas de Pedro com três confissões de fé. Três vezes Pedro negou Jesus, três vezes foi pedido a Pedro que proclamasse seu amor a Jesus, A ênfase aqui não é em Pedro “liderando a Igreja como o Papa”, mas sim sendo aceito de volta entre aqueles apóstolos que não negaram Jesus. Pedro era o “pastor das ovelhas”, assim como os outros apóstolos, não o Papa.

15.18) O Concílio de Jerusalém (Atos 15:6-29) contraria totalmente a idéia de que Pedro era Papa e a idéia da supremacia da Igreja de Roma. O Concílio aconteceu em Jerusalém e não em Roma. Mesmo se tivesse sido em Roma, Pedro foi apenas um dos oradores e não o principal orador. Tiago teve mais participação do que Pedro, pois fez por fim uma síntese de todos os discursos, e o seu “julgamento pessoal” (v. 19) do caso. A carta enviada para as igrejas (v. 23 a 29) não faz nenhuma menção a Pedro. Se este era o Papa, o Concílio de Jerusalém em momento nenhum faz referência a sua autoridade.


Fontes: http://www.biblepages.web.surftown.se/eb08b.htm
http://www.biblepages.web.surftown.se/ee01b.htm
http://www.biblepages.web.surftown.se/ea01d.htm
http://www.bible.ca/catholic-infallibility.htm