quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Espiritismo

"A Casa Espírita avança para a condição de Educandário, fornecendo os contributos para o estudo e a análise das criaturas, libertando-as das crendices e superstições, ao tempo em que lhes oferece os recursos para a ação com liberdade sem medos, com responsabilidade, sem retentivas, perfeitamente lúcidas a respeito do destino que lhes está reservado, ele próprio resultado de suas opções e atitudes. Uma sociedade que se conduza fiel a esses conceitos e determinações torna-se justa, equânime e os membros que a constituam serão, sem dúvida, felizes.

Portanto, é indubitável que o Espiritismo liberta as consciências das sombras e as conclama às escaladas desafiadoras do progresso".

Autor: Manoel Philomeno de Miranda
Psicografia de Divaldo Franco

Fonte: www.oespiritismo.com.br


Os Sonhos, no Espiritismo e na Psicanálise

Durante centenas de anos os sonhos foram encarados como portadores de vaticínios transmitidos por deuses ou forças superiores, e que, de alguma forma, poderiam ser interpretados, respondendo a necessidades imediatas de indivíduos ou grupos. Na filosofia, chegou a ser aceito como resultado da elevação da alma ou do desprendimento do espírito das amarras do corpo promovido pelo sono. Na ciência ocidental, a medicina cartesiana tentou reduzi-lo a manifestação inútil de grupos isolados de células do cérebro adormecido respondendo a estímulos externos casuais.

A psicanálise, apesar de confessadamente mecanicista, recuperou o sentido e o potencial significante dos sonhos, tornando-os passíveis de interpretação e conhecimento, o que, aliás, nunca fora renegado pela crença popular. Mas, manteve uma redução conceitual: sonhos são realizações de desejos.

O Espiritismo, com meio século de antecedência em relação à psicanálise, trouxe a primeira teoria realmente científica sobre o sonho. E, também, a mais completa, pois o admite como sendo desde uma simples manifestação puramente cerebral, passando pela identificação do sonho como realização do desejo e, ampliando sobremaneira o conceito, quando identifica o desprendimento do espírito e suas atividades extra-corpóreas como constituindo matéria dos sonhos.

Freud chegou muito perto disso, mas o enorme preconceito que ele e seus contemporâneos nutriam pelo ocultismo o impediu de ir além. É importante observar que em seu tempo, tanto quanto hoje em dia na Europa, o Espiritismo é apenas mais uma repartição na grande estante do ocultismo. Então, como hoje, os europeus empregavam amiúde o termo ocultismo como sinônimo de espiritismo. Freud declarou o ocultismo como inimigo da psicanálise! Ele relaciona a perda de valores pela guerra (1914/18) e a troca do paradigma mecanicista pelo relativista como facilitadores da expansão do ocultismo. (Exatamente os mesmo fatores que alguns antropólogos modernos relacionam como responsáveis pelo declínio do Espiritismo). Reconhece que há um parentesco aparente entre psicanálise e ocultismo – o inconsciente e seus mistérios, bem como o fato de a psicanálise ser encarada como "mística" – mas, diz, o ocultista não procura o conhecimento: ele é um crente buscando confirmação. Pode ser que o analista encontre confirmação para alguns fatos "ocultos", mas o ocultista irá generalizar e proclamar o triunfo de suas opiniões. Por isso mesmo, segundo ele, "a aceitação geral do ocultismo provocaria um colapso do pensamento crítico, dos padrões deterministas e da ciência mecanicista". Ele não deixa de ter razão, uma vez que a aceitação geral do Espiritismo provocará sim um colapso, não só na ciência, mas, também, na economia, na política, na sociedade enfim, pela substituição de paradigmas: o lucro, pelo desapego.

Quanto aos sonhos, ele reconhece que podem ser confundidos com "fantasias noturnas sem acréscimos", "repetição de experiências reais do dia" e com "sonhos telepáticos". Sua descrição destes últimos os deixa iguaizinhos aos sonhos espíritas, porém, ele os considera "uma percepção de algo externo perante o qual a mente permanece passiva e receptiva". Mas ele prefere denominar tudo isto de "outros produtos mentais do estado de sono" e, não, como "sonhos". Sonhos, dignos deste nome, seriam apenas quando há condensação, deformação, dramatização e, acima de tudo, realização de desejo.

Leon Denis divide os sonhos em três categorias: "Primeiramente, o sonho ordinário, puramente cerebral, simples repercussão de nossas disposições físicas ou de nossas preocupações morais". A segunda categoria equivale ao "primeiro grau de desprendimento do Espírito", quando este "flutua na atmosfera, sem se afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens que de todos os lados rolam pelo espaço". "Por último vêm os sonhos profundos, ou sonhos etéreos. O Espírito se subtrai à vida física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade..." Mas o grande escritor espírita não observou, ao contrário do que está em "O Livro dos Espíritos", a categoria que mais impressionou Freud, justamente por fornecer maior quantidade de material para as análises.

Na questão 405 de "O Livro dos Espíritos", Kardec pergunta sobre as coisas que parecem pressentimentos, nos sonhos, mas que não se confirmam, e a resposta é que "o Espírito viu aquilo que ele DESEJAVA..." E, mais: "as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se VÊ a aparência do que se DESEJA, ou do que se TEME". Na questão 406, Kardec aborda o fato de sonharmos com pessoas que conhecemos cometendo atos de que elas não cogitam, e os Espíritos voltam à questão do desejo: "não é raro atribuirdes, de acordo com o que DESEJAIS, a pessoas que conheceis, o que se deu ou se está dando em outras existências". Os Espíritos não precisavam dizer mais do que isto. Não competia a eles ou a Kardec aprofundarem-se mais nesse caminho, uma vez que o interesse espírita estava sobre os "sonhos profundos". Mas, quem limitou ou reduziu a conceituação de sonhos foi Sigmund Freud.

Fontes: "O Livro dos Espíritos"; Allan Kardec; FEB.
"No Invisível"; Leon Denis; FEB.
"Psicanálise e Telepatia" e "Sonhos e Telepatia"; Sigmund Freud;
Edição Standard Brasileira; Volume XVIII.
"Sobre os Sonhos"; idem; idem; Volume V.

João Alberto Vendrani Donha
Centro Espírita Luz Eterna - CELE


Escolha das Provas: é possível escolher fazer o mal?

Recebemos, recentemente, a seguinte pergunta: "pode um espírito escolher, como prova para sua próxima encarnação, ser um criminoso ou praticar o mal?"

Vamos abordar tal questão.

Em o Livro dos Espíritos, Kardec faz uma abordagem geral da escolha das provas, sem no entanto explicitar todas as situações onde isso ocorre e onde isso não ocorre.

A escolha das provas, de maneira livre e consciente pelos espíritos desencarnados, só é possível quando o espírito tem um certo grau de conhecimento, discernimento e qualidades morais para tal.

Na verdade, do modo que os espíritos respondem da questão 258 em diante, bem genericamente, pode-se interpretar, com uma leitura inicial e não aprofundada e complementada pelas outras obras, que todos os espíritos escolhem livre e conscientemente suas provas na erraticidade.

Mas não é isso que está dito, o que é confirmado pela Leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo e das outras obras básicas. O que se pretende dizer é que o Espírito, ao exercitar o livre arbítrio, quer como encarnado, quer como desencarnado, em suas atitudes e trânsito perante as Leis Divinas, estabelece automaticamente para si as suas provações e, portanto as "escolheu" livremente, por sua própria vontade.

Na realidade, não haveria necessidade nenhuma de que os espíritos pudessem, na erraticidade, "escolher" provas e expiações, pois a Lei de Causa e Efeito, a Lei de Ação e Reação, a Lei de Justiça já registraram no perispírito e na mente do espírito as energias e tendências que o farão enfrentar as provas e expiações que necessite passar. Isso é automático e faz parte da justiça Divina e da Lei Natural.

É por isso que só a espíritos um pouco mais esclarecidos é dado a oportunidade de "escolher" suas provas e expiações, mas mesmo assim, é preciso lembrar que o livre arbítrio é inviolável, e que o espírito não lembrará, depois de encarnado, que "escolheu" isto ou aquilo, e poderá tomar atitudes e decisões que levem ao caminho completamente oposto do "escolhido".

Isto é uma verdade peremptória, pois se assim não fosse, nós seríamos "robôs", autômatos", "marionetes", ou seja, teríamos instalado o determinismo, que a Doutrina Espírita tão bem nos explica que não existe.

Infelizmente, muitos espíritas "estudam" espiritismo apenas pela "metade", não estudam o conjunto da obra de Kardec, e tomam romances como livros ou obras básicas, o que não é verdade. O livro "Nosso lar", por exemplo é fantástico, que trouxe novos conhecimentos, mas é um romance, descreve apenas uma situação, uma pequena parte da realidade, que não pode ser extrapolada para todo o plano espiritual. Muitos conhecimentos estão "romanceados", e são, guardadas as devidas proporções, como as parábolas do Mestre Jesus, onde se deve buscar o sentido oculto na alegoria (no "romanceado").

Respondendo objetivamente à pergunta, ninguém pode escolher como prova fazer o mal, pois a pessoa que quer, conscientemente, praticar o mal, tem o mal dentro de si, e enquanto estiver neste estado, não escolherá suas provas e expiações na erraticidade. Elas serão determinadas automaticamente pelo registro energético no perispírito e pelo registro moral na inteligência, ou seja, pelo "karma" daquele espírito.

Pelas consequências de sua(s) vida(s) passada(s), ou seja, por sua livre escolha e vontade, pois exerceu o livre arbítrio, o espírito "determina" automaticamente em que condições sociais, econômicas, culturais e com qual patrimônio genético vai reencarnar. Pode nascer num lugar onde exista o mal, e para progredir, terá que vencer as influências, as tendências, as deficiências físicas, etc.

Tudo nos é permitido, pois temos livre arbítrio, mas isso não será determinado pelo espírito na escolha de suas provas lá no plano espiritual, mas sim pelo seu comportamento perante o que vai enfrentar na reencarnação, o que é decorrente do registro das suas infrações ou acertos no trânsito da Lei Divina ou Natural, ou seja, pelas conseqüências de seus débitos ou créditos na caminhada evolutiva.

Assim como Deus não pune ninguém, não aplica castigos, por ser absolutamente desnecessário, pois cada um planta em si mesmo a conseqüência de seus atos, tendo por obrigação a colheita de seus próprios frutos, a "escolha" de um "rol de provas e expiações" também seria completamente desnecessário, até mesmo inútil, pois já estabelecemos em nossa caminhada como será pavimentado e aberto o próximo caminho.

Mas continuaremos com o livre arbítrio de a cada dia traçar novos rumos, abrir trilhas, seguir desvios, sejam elas para crescimento ou para estagnação no erro e no mal.

A Justiça Divina é perfeita, sua lógica irrefutável. Cabe a nós mudarmos paradigmas e abrirmos mentes e corações para analisar essa bela Doutrina que foi codificada por Kardec.

Sem dogmas, sem fanatismo, com muito amor, seguindo a grande máxima: "Espíritas: Amai-vos e Instruí-vos"!

Carlos Augusto Parchen
Centro Espírita Luz Eterna – CELE